Conheça os vinhos B.O.N.S. (biodinâmicos, orgânicos, naturais e sustentáveis)

Por Mateus Batista, especialista em vinhos naturais (@mateusbatistagastronomia)

A primeira coisa que devemos lembrar quando estamos escolhendo nosso vinho é que vinho é alimento. Hoje em dia há uma preocupação em se consumir alimentos orgânicos e produzidos de forma sustentável, mas essa preocupação ainda não se estende ao que voce bebe.

Ultimamente vemos muita gente comprando legumes orgânicos (e aceitando pagar mais caro por isso) e harmonizando com vinhos industriais produzidos em larga escala, ou rótulos famosos, de vinícolas que investiram mais em marketing do que na terra.

Uma reflexão que costumo fazer é comparar o prato composto de legumes orgânicos com o vinho que bebemos junto. Para se produzir uma garrafa de vinho, gasta-se entre um quilo e um quilo e meio de uva. Acho que ninguém come um quilo de abobrinha em uma refeição. Mas uma garrafa de vinho é fácil beber. Se optarmos por um vinho convencional, pode ser que estejamos ingerindo 1.5kg de uvas produzidas com adição de agrotóxicos e insumos enológicos, enquanto comemos 300g de abobrinha orgânica por exemplo.

O vinho convencional hoje virou um produto industrial como outro qualquer. Existem mais de 300 aditivos enológicos permitidos na produção de vinhos, sendo que só um é obrigatório vir descrito no rótulo: o conservante anidrido sulfuroso, que é largamente utilizado na indústria de alimentos em geral. Isso sem falar nos agrotóxicos utilizados no plantio da videira. Ou seja, estamos bebendo veneno várias vezes que abrimos uma garrafa de vinho, sem saber.

Para se criar essa consciência, o movimento dos vinhos naturais tenta mostrar que o vinho é, acima de qualquer coisa, um produto agrícola. Aproximando o consumidor ao campo fica mais fácil perceber essa diferença. Hoje, a maioria dos produtores naturais são pequenos e de agricultura familiar.

Vinho natural não é moda. A humanidade produziu vinhos de forma natural por muito mais tempo do que da forma convencional. No passado, todos os vinhedos eram conduzidos de maneira orgânica, e a vinificação era natural, com a fermentação acontecendo por meio de leveduras selvagens contidas na própria casca da uva. Produzimos de maneira “convencional” há menos de 100 anos.

As leveduras selvagens desempenham um papel muito importante na vinificação natural. São elas que transformam o açúcar da uva em álcool e liberam os aromas característicos de cada lugar.

A indústria do vinho adora usar a palavra terroir. Mas é impossível falar em terroir quando se esteriliza toda a microflora (leveduras e bactérias boas) do local e se adiciona alguma levedura selecionada de outro país. Não é de se estranhar que hoje se possa encontrar vinhos produzidos no Brasil, por exemplo, que possuem as mesmas caraterísticas de um francês. O que o produtor faz é comprar um pacotinho com leveduras selecionadas que dão determinados aromas e características ao vinho. Falar em terroir hoje em dia é muito mais marketing do que personalidade.

Classificações de vinhos naturais

Existem três classificações mais aceitas para os vinhos naturais, apesar de, a maioria dos produtores, não gostar de se enquadrar em nenhuma delas.

Se fossemos colocar em uma escala, seria nesse ordem:

  • Primeiro viriam os ORGÂNICOS, onde se é permitido utilizar alguns aditivos, desde que de origem orgânica, e a sulfitagem é controlada.

  • Depois viriam os BIODINÂMICOS, que devem seguir um calendário específico, bem como uma cartilha biodinâmica e a sulfitagem permitida é menor.

  • E, por fim, os NATURAIS, onde a intervenção é mínima.

Consumidores mais conscientes

Hoje, no Brasil, a maior parte dos consumidores é composta por pessoas com preocupações ambientais e de saúde, com cabeça aberta para experimentar novos sabores. Estamos falando de um consumidor mais maduro, acima dos 30 anos. Isso acontece porque no passado houve uma glamourização do vinho, com a entrada de marcas consagradas e de rótulos famosos no Brasil. O vinho foi atrelado ao status, e isso ainda perdura, infelizmente.

Para se experimentar um vinho natural é preciso ter a cabeça aberta. Não dá pra degustar um natural com cabeça de convencional. Mas isso não quer dizer que todos os vinhos são extremos e muito diferentes do que estamos acostumados.

Daí a importância das experiências de degustação, guiadas por um profissional que entenda do assunto e que possa fazer uma seleção apropriada, que não vá causar estranhamento ao primeiro contato, nem criar barreiras ao consumo. Um sommelier especializado em vinhos naturais é muito mais um embaixador do movimento do que um vendedor de garrafas.

Realizando uma degustação com 5 rótulos, é possível mostrar variados estilos e produtores, e a pessoa tem a chance de conhecer não só 5 produtos diferentes, mas também escutar a história de 5 famílias diferentes.

Acredito que pessoas se conectam muito mais com pessoas do que com produtos. Uma degustação focada nas pessoas por trás dos vinhos é muito mais agradável do que uma degustação técnica, focada somente nos aromas e características do vinho. Encanta muito mais, e fideliza os clientes. E isso, a grande indústria não pode fazer.

 

Quer aprender mais sobre vinhos naturais? Temos um convite para você!

Mateus Batista é um sommelier mineiro especializado em vinhos sustentáveis e de vinificação natural.

Formado pela WSET de Londres e pela Associazione Italiana Sommelier, trabalha no mercado de vinhos promovendo encontros e degustações focados em apresentar o trabalho de pequenos produtores que trabalham de forma limpa e com pouca intervenção.

Ele oferece uma experiência incrível de degustação de vinhos orgânicos harmonizados com um almoço mineiro num belíssimo casarão do século XIX, em Itabirito.

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